domingo, 15 de janeiro de 2012

OUTROS PROJECTOS EXPOSTOS NO CNFP

«HABITAR A ESCURIDÃO»

Os cegos tocam instrumentos musicais, cantam, dançam. Crianças e adultos exercitam-se em práticas de ginástica e jogam com bolas grandes e ruidosas. São iguais a todos, mas as forças mais poderosas da sociedade empenham-se em torná-los diferentes, esquecendo-os.
Artistas como Marco Antonio Cruz batalham para levar os cegos para longe dos seus esconderijos. A sua câmara prodigiosa segue-os com o amor de pai e irmão. Silencioso, tão simples como modesto, é autor de um livro que intitulou: Habitar a escuridão.
A frase é simples e eloquente. A escuridão habita-se, como se habita a luz. Mas do lado da luz estão as vantagens e os privilégios: a claridade para olhar demoradamente um perfil amado, o milagre das cores que se combinam e recombinam, a glória de eleger: “Gosto de verde”.


Marco Antonio Cruz (Puebla, México, 1957), reconhecido fotógrafo documental, é fundador do diário La Jornada, e director e fundador da agência independente de informação fotográfica Imagenlatina. Lecciona workshops de fotografia documental há mais de dez anos, em diversos centros de fotografia e universidades públicas e privadas de México.
  

 «JOÃO SILVA . AFEGANISTÃO»


     

 A história ensina, àqueles que lhe queiram dar ouvidos, que qualquer guerra liderada por uma força estrangeira no Afeganistão não pode ser ganha. Por isso, não é surpreendente que o cliché “cemitério de impérios” se aplique frequentemente àquele país.
Referindo-se à desastrosa Segunda Guerra Anglo-Afegã, Rudyard Kipling, escreveu:


Quando fores ferido e abandonado nas planícies do Afeganistão,
E as mulheres saírem para esquartejarem aquilo que resta,
Volta-te, escarnecendo, para a tua espingarda e rebenta os miolos
E parte para o teu Deus como um soldado. 

Visitei pela primeira vez o Afeganistão no Outono de 1994, quando grassava uma guerra civil entre facções Mujahedin depois da retirada das forças soviéticas, cinco anos antes. O mundo com o qual me deparei, enquanto desempenhava uma tarefa que me tinha sido atribuída, agarrou imediatamente a minha imaginação e, até hoje, ainda não me largou. Nessa altura, a capital, Cabul, fragmentava-se em feudos controlados por líderes militares cujas forças Mujahedin, bem armadas, estavam a reduzir grande parte da cidade a escombros. Milhares de civis fugiam para campos de refugiados que se avolumavam no vizinho Paquistão e aqueles que não conseguiam fugir, ou escolhiam ficar, estavam sujeitos a bombardeamentos diários, a violações dos direitos humanos e à fome.
Enquanto fotografava a pura selvajaria dessa guerra pensei, ingenuamente, que entendia o que Kipling queria dizer, mas não fazia a mínima ideia. Com a minha curta tarefa terminada, deixei o Afeganistão para fotografar outras guerras e a vida noutras zonas de África. Não regressei até 1999, desta vez no âmbito de uma tarefa para o jornal The New York Times.
Nesses cinco anos, o Afeganistão tinha-se alterado sob muitos aspectos, mas a guerra continuava a ser uma constante. O tirânico governo Talibã controlava grande parte do país com uma mão de ferro, protegida pela luva da retórica islâmica. No extremo norte, Ahmad Shah Massoud, o líder espiritual e militar que outrora era chamado de “Leão de Panjshir” pelo papel que desempenhou na expulsão das forças soviéticas do Afeganistão, agarrava-se à sua estreita faixa de território situada ao longo do Vale de Panjshir. Fotografar Massoud foi algo fascinante, quase beatífico, porque este simplesmente ignorava a máquina fotográfica, tornando-a invisível sem nunca lhe negar a entrada. Fotografei as suas sessões de planeamento e os seus momentos de oração. Consegui uma imagem de Massoud a dirigir um combate de artilharia por detrás de um enorme par de binóculos. As forças de Massoud avançavam lentamente em direcção a Cabul, trocando rajadas de fogo de artilharia e mísseis com os seus inimigos mortais. À medida que as forças Mujahedin se aproximavam da capital, as pequenas cidades iam-se transformando em linhas da frente dos combates, com os habitantes a serem forçados, uma vez mais, a abandonarem as suas casas com receio de serem mortos. As férteis planícies de Shomali, emolduradas à distância por majestosas montanhas cobertas de neve, transformaram-se numa terra de ninguém. Quaisquer forças que tentassem atravessar a planura aberta ficavam expostas ao fogo inimigo.
Esta guerra, que passava quase despercebida, passou a ser notícia de primeira página no mundo inteiro pouco depois dos ataques terroristas contra o World Trade Center, na cidade de Nova Iorque, a 11 de Setembro de 2001. Depressa se tornou evidente que o Afeganistão seria novamente invadido por uma força estrangeira e os meios de comunicação social de todo o mundo invadiram as suas fronteiras. No final de 2001, centenas de jornalistas convergiram em direcção ao leste do Afeganistão para observarem e fazerem o registo das colunas de pó que se erguiam dos locais onde centenas de aviões de guerra dos Estados Unidos tinham largado cargas explosivas sobre posições Talibãs, no cimo de uma montanha com vista para Tora Bora. Algures, naquelas cavernas, estava escondido Osama Bin Laden. A aproximação à montanha era controlada pelos combatentes Mujahedin locais, agora aliados dos Estados Unidos, que faziam um bom trabalho mantendo à distância as hordas dos meios de comunicação social. Alguns de nós faziam investidas a diversos locais ao longo da montanha para fotografar árvores com cicatrizes de guerra, cadáveres e cavernas vazias. Havia pouco para documentar além disso e muito menos, certamente, a fotografia que traria fortuna: a do próprio Bin Laden.
A guerra no Iraque desviou a minha atenção do Afeganistão até 2006, quando os Talibãs afirmavam de novo a sua presença e a actividade cinética da guerra parecia, por vezes, consumir ambos os países. Saltei entre os dois até 2010 quando, com a guerra no Iraque a acalmar, decidi regressar exclusivamente ao Afeganistão. Esse regresso foi temporariamente interrompido na manhã de 23 de Outubro de 2010. O dia começou de forma bastante rotineira, a fumar um ou dois cigarros durante um briefing de preparação para uma missão de patrulha, que eu ia acompanhar, de um pelotão 41D ao distrito de Arghandab, na província de Kandahar. Partimos e adaptei-me à rotina de patrulha que me era familiar: olhar para as traseiras dos capacetes dos soldados enquanto se trabalha, tentar não fazer desvios demasiado grandes em relação ao percurso para não se pisar uma mina, ou caminhar até ao momento em que alguém dispara contra nós, que é quando as verdadeiras imagens surgem.
As fotografias de combate que estava a tirar nessa manhã eram o oposto do emocionante. Eram fotografias normais, do quotidiano, de soldados a baterem terreno, daquelas que já pouco se fixavam nas mentes dos que as viam. Eram enfadonhas e eu sabia-o. Talvez isso explique o facto de eu ter continuado a tirar fotografias depois de o meu pé ter tocado numa mina – porque, lá no fundo, eu sabia que não tinha nada.
 Um médico tratou das minhas feridas até ao momento em que o helicóptero de evacuação médica aterrou por perto e me levou até um lugar seguro.
Estou vivo.
João Silva

João Silva tem trabalhado como fotógrafo, em regime de exclusividade, para o The New York Times desde o ano 2000. Silva associou-se ao Times em 1996 como fotógrafo freelancer e rapidamente passou a ser o fotógrafo do jornal na África do Sul
Em 2000, Silva foi co-autor do livro “The Bang-Bang Club” e publicou “Na Companhia de Deus” em 2005.
Silva tem desenvolvido extensos trabalhos em países de todo o mundo, nomeadamente na Geórgia, no Líbano, em Israel, no Iraque, no Afeganistão, no Paquistão, na Somália, no Sudão, em Angola e nos Balcãs.
Em Outubro de 2010, Silva ficou gravemente ferido após pisar uma mina quando integrava uma patrulha a pé com soldados americanos da 4ª Divisão de Infantaria no Afeganistão. Encontra-se actualmente a recuperar dos ferimentos no Centro Médico Militar Walter Reed, em Washington D.C., nos Estados Unidos da América.

«FOTOGRAFIAS QUE FALAM POR SI»


Gonzalo Torrente Ballester e Jorge Luis Borges, dois dos literatos mais representativos a nível mundial do Séc. XX, a conversar em frente à Giralda
Sevilha, 1987

A Exposição “Fotografías que hablan solas”, foi criada para homenagear o percurso profissional de Juantxu Rodríguez, por parte dos seus amigos e colegas que quiseram fazer o merecido reconhecimento de uma obra que dignifica uma profissão.

Juan Antonio Rodríguez Moreno, “Juantxu Rodríguez”, nasceu em Casillas de Coria (Cáceres) a 2 de Novembro de 1957. Cresceu em Portugalete (Biscaia), onde iniciou a sua carreira como fotógrafo, tendo colaborado em vários meios de comunicação do País Basco (Diario Hierro; Tribuna Vasca e Deia, principalmente).
Faleceu no dia 21 de Dezembro de 1989, durante a invasão dos EUA ao Panamá.
Fotógrafo autodidacta, teve um percurso profissional tão curto como intenso. Autor de vários livros e galardoado com o Prémio FotoPress, na categoria Retratos, e várias Menções Especiais, obteve reconhecimentos póstumos, como o Premio Ortega y Gasset (1989) e a Medalha de Mérito no Trabalho, em 2004.
Esta Exposição reúne uma amostra de 55 fotografias dos seus melhores trabalhos, realizados entre 1981 e 1989.

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